Une partie de l'équipe de PLURIEL (avec l'ami Eustache) il y a presque 25 ans...

lundi 25 janvier 2010

Emission du 22 janvier 2010





  • Les news: Bonga, Deolinda et Sara Tavares en concert à l'Alhambra, dans le XXème, à Paris en février
  • O'questrada: découverte d'un thème musical du groupe
  • Livre de Manuel Do Nascimento: La révolution des oeillets au Portugal, chronologie d'un combat pacifique, Ed. de l'Harmattan, Paris, 2009
  • Pab en direct de Faro: comes e bebes (festa da chouriça em Querença), pugilato em Alvalade, COCAN 2010 Angola
  • Poème de Alexandre O'Neill




PORTUGAL
Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,




Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,


moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanídeos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,


rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há «papo-de-anjo» que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

Alexandre O'Neill

Quinze poetas portugueses do Século XX

Selecção de Gastão Cruz

Assírio & Alvim, Lisboa 2004


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